Inventário (1)
"A sabedoria da natureza é tal que não produz nada de supérfluo ou inútil. " Nicolau Copérnico
"Na terra tudo vive - e só o Homem sente a dor e desilusão da vida. E tanto mais as sente quanto mais alarga e acumula obra dessa inteligência que o torna Homem, e que o separa da restante Natureza..." Eça de Queiroz in Citações e Pensamentos



A Natureza, ao contrário dos princípios humanistas que norteiam as atuais sociedades desenvolvidas, não se compadece e sustenta seres ou biomas deficitários. Assim que estes esgotam as suas reservas, fenecem e inicia-se o processo de sucessão.
Trabalhar com a natureza e não contra ela, é um princípio da Permacultura e é a meta que, atingida, permitirá sustentar a exploração do Vale da Lande e assegurar a sua continuidade.
Quando ponderei a aquisição da propriedade fiz estimativas, que agora se estão a revelar demasiado otimistas, para as receitas da propriedade. Nessa altura estimei que a extração e a venda de cortiça seria a principal fonte de receita e que bastaria para equilibrar as contas.
Quais são os custos com o Vale da Lande? e qual é a estimativa para a receita da extração da cortiça?
1-Custos
As operações necessárias para a manutenção da propriedade incluem a limpeza do mato e as operações de condução e limpeza das árvores, que, por agora, estimo ser necessário repetir de 5 em 5 anos, tendo a primeira um custo de € 50/ha/ano e as segundas um custo de € 16/ha/ano.
Além das despesas de manutenção existem despesas de investimento que incluem a instalação de vedações e de pastagens, as sementeiras e plantações de árvores, as máquinas e as ferramentas, cujo valor estimado para a sua amortização, considerando um prazo de 10 anos, é de € 120/ha/ano e também o custo com combustíveis que ronda os € 20/ha/ano.
Atinjo deste modo um custo anual de exploração da propriedade de € 206/ha.
2-Estimativa de receita da extração e venda de cortiça
A extração da cortiça, por imposição legal, faz-se de 9 em nove anos, no mínimo. Este período poderá ter de ser aumentado, em um ou dois anos, caso se verifique que a espessura da cortiça, que se pretende extrair ainda não atinge as 13 linhas (29,25mm).
As 13 linhas ou 29,5mm são a espessura mínima que permite a utilização da cortiça para o fabrico de rolhas. Como este setor é o que maior valor obtém da laboração da cortiça é também o que melhor paga pela matéria prima.
A estimativa do volume da cortiça, que se pode extrair de uma árvore, em Arrobas (@), é feito com base no seu peso, este peso é obtido pelo produto do volume da cortiça a extrair (m3) pelo valor da densidade média da cortiça (210Kg/m3) e dividindo o resultado anterior por 15.
O cálculo do volume de cortiça a extrair obtêm-se pelo produto da circunferência do fuste da árvore medida à altura do peito (CAP), pela altura de extração e pela espessura média da cortiça a extrair.
A altura de extração está limitada na legislação a 1, 2 ou 3 vezes a CAP, consoante de trate de cortiça virgem (1ª extração), secundeira (2ª extração) ou amadia (a partir da 3ª extração), sendo que em qualquer dos casos só se pode extrair de fustes ou de pernadas cuja circunferência medida sobre a cortiça seja igual ou superior a 70 cm.
Para responder à 2ª questão foi necessário efetuar o inventário das árvores existentes registando para cada uma delas os seguintes dados:
CAP - Circunferência à altura do peito
Fase de extração (Virgem, Secundeira, Amadia) e estado (Queimada ou sã)
Ano da última extração
Altura de tiragem (extração) exceto quando se trate de extrair cortiça virgem
Para facilitar e organizar este trabalho de inventariação dos sobreiros, a propriedade foi dividida em 14 zonas, delimitadas pelos caminhos e linhas de água, conforme imagem (4). Cada árvore, após inventariada, foi marcada para evitar repetições (2). Porque apenas se pode extrair cortiça nas árvores cujo CAP seja igual ou superior a 70cm foram excluídas deste inventário as árvores com CAP inferior a 60cm.
Resultados
Com 8 zonas inventariadas (cerca de 90% dos sobreiros existentes) os resultados são:
N.º de árvores com CAP > 60cm: 926
Cortiça Virgem a extrair: 2,4@
Cortiça Secundeira a extrair: 0,6@
Cortiça Amadia a extrair em 2023: 163,4@ (preço médio em 2017 €28,45/@)
Cortiça Amadia a extrair em 2024: 300,8@ (preço médio em 2017 €28,45/@)
Cortiça Queimada a extrair: 305@ (sem valor comercial)
O maior valor para o CAP foi de 2,80m numa árvore situada na zona 4.
Os resultados obtidos têm de ser ponderados dado que existem árvores cujo fuste apresenta zonas sem cortiça devido a feridas ou ao fogo e árvores que não permitem a extração (5). Assim do total de 772@ de cortiça a extrair num período de 9 anos, por prudência, só devo contar com cerca de metade.
O volume da cortiça a extrair irá aumentar com o decorrer dos anos, foram inventariadas 228 árvores com CAP compreendido entre 60 e 70 cm, que entrarão em produção nos próximos anos. Serão necessários muitos anos para que o resultado da extração e venda de cortiça equilibre os custo de exploração.