INVERNO (1)
O provérbio diz "De pequenino se torce o pepino", que é o mesmo que dizer que, "É no inverno que se prepara o ano"
A ordem de trabalhos no Vale da Lande é ditada pelas estações, no Inverno são feitos os trabalhos de preparação para o ano que se inicia.
1 - A condução dos
sobreiros
A rebentação de toiça, que consiste na emergência de rebentos a partir do cepo ou base de uma árvore, é uma característica que aumenta a capacidade de sobrevivência da árvore aos acidentes a que está sujeita ao longo da sua vida. O crescimento, simultâneo, dos diversos rebentos confere às jovens árvores uma aparência de pequenas moitas (1).
Os rebentos competem entre si, atrasando o desenvolvimento da futura árvore, pelo que devem ser desbastados retirando os que estão demasiados juntos, os que têm um tronco curvo ou retorcido e os cuja direção de crescimento os afaste da vertical, libertando assim os que melhor caraterísticas apresentam da interferência dos restantes (2).
É uma atividade constrangedora, ter de escolher os 2 ou 3 rebentos que deixamos ficar em cada toiça, já que muita vezes nos fica a dúvida se foi a melhor escolha. No entanto as árvores não se movem por si mesmas e a translocação destes rebentos é equivalente a conduzir toda a planta à morte e esta tarefa é necessária para conduzir as jovens árvores para a produção de cortiça.
Mais tarde também será necessário escolher apenas um dos 2 ou 3 rebentos que foram deixados desenvolver em cada toiça (3 e 4).
Para se extrair boas pranchas de cortiça, os sobreiros, devem ter um tronco reto e alto, pelo que se devem retirar as pernadas cuja inserção no trono não é adequada e as bifurcações que surjam junto à base das novas árvores. Quanto mais cedo for realizado este trabalho menores serão as dimensões das feridas provocadas nas árvores pelo corte destes ramos e melhor será a sua cicatrização (6 a 8).
Esta condução está explicado no Manual de Boas práticas suberícolas nos repovoamentos de sobreiros

2 (Semear) - As Favas
É também no início do Inverno que procedo à sementeira das favas, escolho este período para que a época de floração ocorra após as últimas geadas que no Vale da Lande acontecem geralmente no final do mês de fevereiro ou no início de março.
Utilizo um processo rudimentar que consiste em semear as favas em pequenas covas, abertas no terreno, sem qualquer preparação prévia, com um pequeno sacho. As favas vão crescer no meio da vegetação natural do terreno.
O trabalho, realizado deste modo, não é com certeza uma prática agrícola comum, tão pouco é por preguiça ou por falta de equipamento que não é feita a preparação do solo, é antes por opção que resulta das novas experiências conduzidas por Masanobu Fukuoka relatadas nos seus livros "One Straw Revolution" e "The Natural Way of farming", de que deixo aqui um extrato.
"Plowing Ruins the Soil: Knowing that the roots of crops penetrate deep into the earth in search of air, water, and nutrients, people reason that making larger amounts of these ingredients available to the plants will speed crop growth. So they clear the field of weeds and turn the soil from time to time, believing that this loosens and aerates the soil, increases the amount of available nitrogen by encouraging nitrification, and introduces fertilizer into the soil where it can be absorbed by the crops.
Of course, plowing under chemical fertilizers scattered over the surface of a field will probably increase fertilizer effectiveness. But this is true only for cleanly plowed and weeded fields on which fertilizer is applied. Grassed fields and no-fertilizer cultivation are a different matter altogether. We therefore have to examine the necessity of plowing from a different perspective. As for the argument that this helps increase available nitrogen through nitrification, this is analogous to wasting one's body for some temporary gain.
Plowing is supposed to loosen the soil and improve the penetration of air, but does not this in fact have the opposite effect of compacting (he soil and decreasing air porosity? When a farmer plows his fields and turns the soil with a hoe, this appears to create air spaces in the soil and soften the dirt. But the effect is the same as kneading bread: by turning the soil, the farmer breaks it up into smaller and smaller particles which acquire an increasingly regular physical arrangement with smaller interstitial spaces. The result is a harder, denser soil."
É pois com o objetivo de recuperar o solo que não permito que o solo seja lavrado.
E as favas? estas que crescem em ambiente selvagem ficam saborosíssimas, com o único defeito de saberem a pouco...
Nesta fotografia aparecem, em 1º plano, os caules e as flores secas das Labaças
3 (Colher) - As labaças
As labaças, também conhecidas, no Alentejo, como alabaças ou catacuzes, fazem parte das ervas azedas (do género Rumex). Como todas as plantas silvestres a Labaça é uma planta indicadora do estado do solo e ao mesmo tempo é uma planta corretora ou melhoradora das deficiências do solo.
A presença de labaças num solo indica que este é pesado (com predominância de argila), ácido, húmido e compactado, a sua raiz forte e profunda melhora a circulação de água e a entrada ar no solo.
As folhas da Labaça são colhidas no inverno, tradicionalmente para fazer "sopa de feijão com labaças", devemos escolher as que ainda não têm pintas vermelhas por ser menor o conteúdo de ácido oxálico.
Apanho as Labaças para fazer esparregado, fica com um sabor é ligeiramente mais ácido do que se fosse feito com espinafres, o que o torna mais adequado para acompanhar e equilibrar, entre outros, os pratos de carnes gordas.
No artigo "Catacuzes; Carrasquinhas; Espargos e Azedas", sobre o aproveitamento culinário de diversas plantas silvestres, publicado no blog do Correio-Mor, é referido que foi a fome que motivou este aproveitamento, pelos camponeses alentejanos, para a confeção de receitas que outrora desprezados pelos abastados, hoje, apenas estão na sua mesa.
Para a descoberta das "Ervas Silvestres Comestíveis" recomendo a leitura do guia prático de Alexandra Azevedo.