SOLOS (1)
It is when the tempo of denudation is vastly accelerated by human agencies that a perfectly harmless natural process becomes transformed into a definite disease of the soil
(Sir Albert Howard - "An Agricultural Testement")
Corte realizado no sopé da encosta para abertura de caminho onde é visivel a origem coluvionar do solo
Acumulação de solo aluvionar no vale
Taludes do corgo com uma altura de 1,5m
Pormenor do material constituinte das paredes do corgo
O solo provem da degradação, realizada por processos mecânicos e químicos (intemperismos), das camadas superficiais das rochas e das transformações a que é sujeito pela comunidade biológica.
Um solo diz-se completo e desenvolvido quando já é possível diferenciar 5 camadas horizontais (horizontes) designadas, de cima para baixo, pelas letras O, A, E, B, C, em que a camada superficial (O) corresponde à de maior acumulo de material orgânico e a camada inferior (C) à da rocha matriz não consolidada. A velocidade de formação do solo (pedogênese) varia, consoante as caraterísticas da rocha matriz e do clima, entre 0,125 a 0,025mm/ano.
O solo também pode involuir por processos de erosão (mecânica e química), chegando inclusive a desaparecer completamente deixando à vista a rocha matriz.
Os processos de pedogênese e de erosão ao longo dos anos atingem um equilíbrio, conduzindo à formação de diferentes solos consoante as características da rocha matriz, da topografia e do clima. Em geral nos climas mais secos, como o do Alentejo, a erosão tende a sobrepor-se à pedogênese, dando lugar a solos pouco profundos e incipientes, ao contrário nos climas mais húmidos o equilíbrio entre a erosão e a pedogênese tende à formação de solos mais profundos e desenvolvidos.
O Prof. A. M. Galopim de Carvalho no final do artigo "Alguns Aspectos da Geologia do Alentejo" em que discorre sobre a formação geológica da península ibérica e em particular da planície alentejana, faz a seguinte referência a estes processos.
"A título de remate, pode dizer-se que esta aplanação resultou da dialética, sempre presente, entre as forças próprias do calor armazenado no interior da Terra, que abrem oceanos, deslocam continentes e fazem nascer montanhas, e as forças desencadeadas pela energia radiante que nos chega do Sol. Por via da erosão, estas forças vindas do exterior da Terra, modelam-lhe constantemente a face, ao contrário do que sucede com a Lua, onde não há nem suficiente calor interno nem erosão, e que, por isso, nos mostra o mesmo visual que tinha há 3 000 milhões de anos. E tenhamos consciência que os materiais que, no presente, continuam a resultar da erosão de todos os relevos da Terra, constantemente drenados pelos rios a caminho dos oceanos, se estão aí a acumular sob a forma de espessas camadas sedimentares para, daqui a muitos milhões de anos, quando estes oceanos se tornarem a fechar, gerarem, por estas e outras bandas, novas cadeias de montanhas e assim sucessivamente... até ao fim do tempo da Terra, previsto para daqui a quatro ou cinco mil milhões de anos, numa repetição do que tem sido a sua história desde que nasceu no seio do Sistema Solar."
O processo da erosão pode no entanto ocorrer a uma velocidade muito superior à da pedogênese.
A utilização para a agricultura de solos frágeis e/ou com declive acentuado foi e é a principal causa das perdas de solo, conforme se constata dos valores obtidos nas experiências realizadas nos talhões do Centro Experimental de Erosão de Vale Formoso, que constam da seguinte tabela extraída do documento "Estudos sobre Desertificação no Baixo Alentejo Interior- Concelho de Mertola" dos Professores Maria José Roxo e Pedro Cortesão Casimiro.

Estes valores permitem perceber porque é que, no Vale da Lande, os solos das encostas são incipientes e têm espessuras entre 1 e 15cm e também porque é que nos sopés e nos vales são em geral bem desenvolvidos e têm espessura que chegam a atingir vários metros.
A título de exemplo faço a seguintes contas:
Considerando a pedogênese de 0,05mm/ano (clima seco) e uma densidade específica do solo de 2.500Kg/m3 a massa de solo produzido por ha e ano será de 1.250Kg (0,5m3).
Esta massa será perdida em média:
Num episódio chuvoso caso o terreno esteja lavrado no sentido da maior pendente;
Em 6 episódios caso o solo esteja nu;
Em 24 episódios caso o solo esteja protegido por estevas;
Em 149 episódios caso o solo esteja protegido por pastagem natural.
Vale a pena transcrever na íntegra o que escreveu Sir Albert Howard a propósito da aceleração da erosão provocada pelo homem diz no livro "An agricultural Testement"
"It is when the tempo of denudation is vastly accelerated by human agencies that a perfectly harmless natural process becomes transformed into a definite disease of the soil. The condition known as soil erosion -- a man-made disease -- is then established. It is, however, always preceded by infertility: the inefficient, overworked, dying soil is at once removed by the operations of Nature and hustled towards the ocean, so that new land can be created and the rugged individualists -- the bandits of agriculture -- whose cursed thirst for profit is at the root of the mischief can be given a second chance. Nature is anxious to make a new and better start and naturally has no patience with the inefficient. Perhaps when the time comes for a new essay in farming, mankind will have learnt a great lesson -- how to subordinate the profit motive to the sacred duty of handing over unimpaired to the next generation the heritage of a fertile soil. Soil erosion is nothing less than the outward and visible sign of the complete failure of a policy. The causes of this failure are to be found in ourselves."
Uma adequada utilização do solo permite obter um saldo positivo, entre a perda de solo por erosão e o ganho por pedogênese, permitindo o aumento da espessura e do desenvolvimento do solo bem como outras vantagens de que falarei no próximo "post".