SOLOS (2)

Figura 1 (extraída do livro Edible Forest Gardens - Dave Jacke e Eric Toensmeier)

Figura 2 (extraída do livro Edible Forest Gardens - Dave Jacke e Eric Toensmeier)

Figura 3 (extraída do livro Edible Forest Gardens - Dave Jacke e Eric Toensmeier) 

A circulação de nutrientes nos ecossistemas pode, simplificadamente, ser representada num diagrama pelos fluxos de ganhos e perdas entre os seis depósitos ou contentores do solo (partículas minerais constituintes do solo, rocha matriz, água subterrânea, organismos do solo, matéria orgânica e plantas) e a envolvente exterior afastada (atmosfera, terra).

Na figura 1 estão representados os fluxos existentes num sistema mineral (solo sem vida) em que os ganhos obtidos pela pedogênese e pela deposição atmosférica são inferiores às perdas por lixiviação e erosão. Um solo nesta situação vai-se depauperado tornando-se inviável o seu desenvolvimento.

Na figura 2 estão representados os fluxos existentes num sistema em que além da parte mineral estão presentes os organismos do solo, as plantas e a matéria orgânica. Neste ecossistema as perdas de nutrientes para o exterior são reduzidas e até inferiores aos ganhos decorrentes da pedogênese, tornando o ecossistema sustentável e conduzindo à maturação do solo.   

Resumidamente os processos de perda de nutrientes são:

- As perdas por efeito de dissolução e arrastamento através da percolação da água (lixiviação)

- As perdas por transformação química ou orgânica com libertação sob a forma gasosa

- As perdas por arrastamento de partículas pela água e vento (erosão)

E os processos de recuperação ou de redução de perdas de nutrientes são:

- Extração de nutrientes dissolvidos na água e nas camadas profundas do solo pelas raízes das plantas

- Eliminação da erosão hídrica e eólica pelas plantas e pela melhor estrutura e agregação das partículas do solo devido ao aumento do conteúdo de matéria orgânica

- Redução da quantidade de água percolada devido à maior capacidade de absorção do solo e à utilização da água pelas plantas e organismos do solo

- Redução da temperatura à superfície do solo e consequente redução da taxa de decomposição da matéria orgânica em consequência do ensombramento causado pelas plantas

- Desenvolvimento da capacidade de retenção de nutrientes no solo pelo aumento da matéria orgânica e da comunidade de organismos no solo  

O processo de transformação de um solo jovem (solo mineral) num solo bem desenvolvido é pois um processo lento, que tem de ser percorrido passo a passo, isto é, a cada passo dado no desenvolvimento (maturação) do solo permitirá um novo passo no desenvolvimento dos organismos, plantas e da matéria orgânica presentes, os quais por sua vez irão permitir um maior enriquecimento do solo.

Soil development is the most important aim of biological agriculture ... However, an organic approach that "robs Peter to pay Paul" cannot be justified as sustainable. Importation of nutrients must be an investment in biological capital rather than a perpetual input necessary to maintain output. David Holmgren, Hepburn Permaculture Gardens 

As plantas espontâneas, plantas que nascem a partir das sementes espalhadas pelo vento e pelos animais, por vezes, erradamente, designadas por ervas daninhas, são plantas que maioritariamente se desenvolvem quando as condições do solo lhe são favoráveis. A sua identificação nos campos permite-nos obter informação sobre o solo que ocupam, estas plantas são por isso, também, designadas por "plantas indicadoras"

Algumas plantas (ver figura 3) nomeadamente algumas herbáceas, distinguem-se por conseguirem acumular um grande número de nutrientes em proporções superiores às que existem no solo, ao chegarem ao fim do seu ciclo de vida, devolvem ao solo esses nutrientes, que ficam assim disponíveis para serem utilizados por outros seres. Se a exportação e/ou as perdas de nutrientes forem inferiores à acumulação realizada pelas plantas resulta um enriquecimento em nutrientes do solo. As plantas que se distinguem por esta característica são designadas por acumuladores dinâmicos, mas também é adequado chamar-lhes plantas corretoras porque a sua presença no bioma ajuda a corrigir as deficiências do solo.