SOLOS (3)
The fact is that people who think a drop of water is simple or that a rock is fixed and inert are happy, ignorant fools, and the scientists who know that the drop of water is a great universe and the rock is an active world of elementary particles streaming about like rockets, are clever fools. Looked at simply, this world is real and at hand. Seen as complex, the world becomes frighteningly abstract and distant. Masanobu Fukuoka in The One-Straw Revolution

(1) Ciclo da água
Extraído do Livro Water for forests and People in the Mediterranean Region
A disponibilidade da água é a principal limitação ao desenvolvimento da comunidade biológica (biocenose) nos climas semi-áridos. Estes são caraterizados por uma precipitação anual entre os 300 e os 600mm, por uma variação interanual de 25 a 50% e um período seco de 4 a 7 meses.
A caraterística dos climas semi-áridos com maior impacto na biocenose é da falta de uniformidade, na distribuição da precipitação, isto é da existência de uma estação seca que se pode prolongar por 7 meses (meados de maio a meados de novembro) e de chuvas esparsas e de grande intensidade na estação húmida.
Para melhor compreender a importância do solo no armazenamento e distribuição da água junto imagem (1) que exemplifica a repartição da água da chuva
Os círculos vermelhos indicam os pontos de repartição.
Parte da chuva é captada pela vegetação que a emite para a atmosfera sob a forma de vapor de água e a outra parte prossegue em direção ao solo.
Parte da água infiltra-se no solo e a restante escorre sobre o solo (runoff)
Parte da água infiltrada é armazenada no solo que a disponibiliza à comunidade biológica e a restante prossegue (percolação) em direção aos lençóis freáticos e daí para os rios, nascentes, lagos, etc.
O solo é o
meio que, da forma mais económica, assegura a captação (2), o
armazenamento e a disponibilização da água (3) que recebe. Um
solo, à medida que se torna mais completo (Link para o artigo Solos
1) retém mais água, que assim fica disponível, por mais tempo e/ou
em maior quantidade, para a comunidade biológica residente. À
medida que os episódios de chuva vão sendo cada vez mais esparsos e
de maior intensidade, como parece ser a tendência atual, maior é a
dependência da comunidade biológica de um solo bem desenvolvido.
As características do solo e mais concretamente as das suas camadas inferiores são preponderantes no armazenamento e circulação subterrânea da água (percolação). O Vale da Lande, bem como grande parte do baixo Alentejo, estão incluídos na designada "Zona Sul Portuguesa" do maciço hespérico. A rocha matriz, característica desta zona, é composta por Xistos e Grauvaques com alguns filonetes (filões de reduzida espessura) de quartzo.
Os comportamentos hidrológicos deste tipo de substrato são referidos no capítulo dedicado ao maciço antigo do documento Sistemas Aquíferos de Portugal Continental, de onde extraio os seguintes excertos:
"Como nas rochas cristalinas a circulação se faz sobretudo numa camada superficial, constituída por rochas alteradas ou mais fraturadas, devido à descompressão, os níveis freáticos acompanham bastante fielmente a topografia e o escoamento dirige-se em direção às linhas de água, onde se dá a descarga. Os níveis freáticos são normalmente muito sensíveis às variações observadas na precipitação."
Esta
caraterística do substrato rochoso, aliada à reduzida espessura e à
baixa permeabilidade do solo argiloso, do Vale
da Lande, são responsáveis pelo
aparecimento, nos dias seguintes a chuvadas de alguma intensidade, de
pequenos regatos na superfície dos vales formados pelas vertentes da
propriedade. São as águas presentes no solo, que este já não
consegue armazenar, que se deslocam ao longo das pendentes. Quando o
seu volume é superior à capacidade de percolação do solo, a água
acumula-se e sobe até chegar à superfície, dando origem aos
referidos regatos.
Este movimento da água, sob a superfície do solo (percolação), mantém-se, devido à baixa permeabilidade do solo argiloso, muitos meses após o final da época das chuvas. Nos pontos em que a superfície impermeável do substrato rochoso se aproxima da superfície aparecem pequenas nascentes que mantêm o solo húmido até ao final do verão.
É possível observar o mesmo fenómeno, no final da primavera, num passeio ao longo do corgo situado no limite poente da propriedade, nalguns locais a água corre à superfície e noutros apenas no subsolo. O corgo só aparentemente seca nos meses de verão, na verdade ele corre durante todo o ano, como bem mostram a abundância e diversidade da flora das galerias ripícolas.
"Nalgumas
regiões o tipo de captação predominante ainda é a galeria de
mina, que tem sido tradicionalmente utilizada em zonas constituídas
por rochas de permeabilidade baixa, sendo bastante adequada a áreas
com relevo vigoroso. Outros tipos de captação tradicionais são os
poços de grande diâmetro e o aproveitamento de nascentes."
"Na mesma região verificou-se existir uma correlação significativa entre a produtividade das captações nos xistos e a presença de filonetes de quartzo. Assim, a ocorrência daqueles constitui um bom indicador da probabilidade de obter melhores caudais do que em outras situações. Verificou-se, igualmente, que a situação topográfica da captação (em vales, encostas ou áreas planas) não exercia um controlo significativo no valor do caudal."
O movimento da água no terreno, a exposição solar e o vento influenciam o processo de estiagem dos solos. Como a percolação se faz das cumeadas para as encostas, das encostas para as vertentes e destas para o fundo dos vales, são os solos das cumeadas os primeiros a estiar e os do vale os últimos. Quanto à exposição solar, a sequência da estiagem é a das encostas viradas a sul, seguidas das viradas a poente, nascente e finalmente as viradas a norte. No que se refere à influência do vento os solos mais expostos estiam antes dos mais abrigados.
O processo
de secagem dos solos reflete-se no estado de maturação das plantas
anuais, estas evitam a estiagem produzindo sementes, que vão
germinar no início da próxima época das chuvas, assegurando deste
modo a sua continuidade. Diferentes estados de maturação, isto é
de desenvolvimento dos caules, folhas, flores, frutos e/ou sementes,
em plantas idênticas, na mesma data, indicam diferenças na
disponibilidade de água no solo e também diferenças na exposição
solar e temperatura.
As plantas
plurianuais têm outros recursos para sobreviver ao processo de
estiagem do solo, dispõem nomeadamente de raízes pivotantes que
vão ao encontro da água que ficou armazenada nas fraturas do
substrato rochoso. Os locais nas cumeadas e encostas onde se nota um
maior vigor dos arbustos e das árvores estão geralmente associados
a fraturas ou outras descontinuidades no substrato rochoso como o da
fotografia.
Noutros locais a presença de árvores, características de zonas húmidas, como o salgueiro da fotografia denunciam a existência de uma reserva de água subterrânea.